floquinhos

sábado, 19 de novembro de 2016

Nas mudancas dos costumes



Nos dias atuais, nem todas as mulheres entendem estes versos de Adélia Prado. As feministas vão esbravejar, arrancar os cabelos, inconformadas com tanta passividade. Mas elas não sabem o que estão perdendo. Essa cumplicidade, esse doar-se pelo carinho, esse companheirismo... A sensação de doce fragilidade aparente, tantas vezes apenas aparente da mulher, esconde a força da alma e, nem sempre traz o desrespeito do companheiro. É preciso, também e especialmente, saber escolher o companheiro. 


Casamento


Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente, sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.


O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:

somos noivo e noiva. 

(Adelia Prado)

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