floquinhos

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

NA MADRUGADA, DEVANEIOS...


Bom acho que esta vai ser mais uma noite entre livros, musica, chás, lembranças... Dessas noites em que a alma inquieta pede licença para sair, atravessar oceanos, cruzar hemisférios, vagar pela noite a dentro sem rumo, sem planos pré-estabelecidos, apenas sentindo o gostinho da liberdade, sentir que não ha amarras a prender-lhe os movimentos, voar como se fora uma águia, indomável, forte, senhora dos ares... Ah, mas que alma mais ridícula esta minha!... Uma águia!!! Não me faltava mais nada! Primeiro porque todo mundo que me conhece sabe bem que “TENHO MEDO DE PASSAROS”... Um medo supostamente atávico, que não explico, nascido comigo. Então devo depreender que é um medo que vem da alma? Ora, então como pode essa insana querer ser uma águia? Vai ser como certas pessoas que temem a si mesmas? No máximo poderia pedir asas emprestadas a um anjo amigo, ou voar por seus próprios meios, pois as almas não se deslocam por si sós pelos espaços? Então? Não! Não ela, toda exibida querendo me fazer acreditar que está bem, que hoje sente-se feliz... Bem a conheço e sei que só está fugindo da solidão que anda rondando seu canto faz dias...
Mas deixo-a partir, só para não prolongar a discussão, afinal ela anda tão tristinha, e enquanto ela desfruta de seus momentos de liberdade na imensidão do mundo dos sonhos, fico eu aqui, encolhida no meu sofá predileto, olhos fechados, coração meio descompassado, envolvida pela musica, pela voz de Elvis, esquecida do livro que me propusera a ler, do chá que esfria sobre a mesinha ao lado... Gostaria de não pensar, de ficar só mergulhada na música, mas temos lembranças tão atrevidas dentro de nós, dessas que chegam ser pedir licença e vão logo nos levando por seu caminhos, aonde vamos reencontrando pessoas, momentos, fatos. Ouço Elvis e me vejo ainda adolescente, numa festinha de aniversário, num daqueles vestidos rodados que faziam meu encanto, ao lado de uma amiga que me fala do novo ídolo do momento. Era a primeira vez que ouvia seu nome e foi só bem mais tarde que o elegi um dos favoritos do meu coração; foram suas baladas românticas que me cativaram e que fazem dele, até hoje, doce companhia nos meus momentos mais sensíveis... Mas como Elvis deve ser ouvido com a alma, apresso-me a recolher a minha para que me faça companhia numa noite que talvez seja longa. Chego ao terraço, olho o céu que esconde suas estrelas sob uma densa camada de nuvens e fico até aliviada por não haver luar... Certamente eu me desmancharia em lágrimas... Lágrimas de saudades... Saudades de mim que ando me perdendo pelas madrugadas insones, entre sonhos desfeitos, esperanças perdidas, lembranças... lembranças...

Dulce Costa
Na madrugada do dia cinco de fevereiro do ano de 2009

Nenhum comentário: